Há pouco menos de uma semana, o ônibus da delegação do Fortaleza sofreu uma emboscada e foi atacado por torcedores do Sport, logo após deixar a Arena Pernambuco, onde as duas equipes empataram por 1 a 1, em jogo válido pela 4ª rodada da Copa do Nordeste.
O ataque, com pedras e uma bomba caseira, deixou para trás um cenário de guerra: janelas quebradas, estilhaços espalhados e marcas de sangue por toda a parte. Seis jogadores ficaram feridos e tiveram que ser hospitalizados.
Zagueiro Titi fala sobre momentos que viveu em atentado ao ônibus do Fortaleza
Em entrevista ao Seleção Sportv, concedida nesta terça-feira (27), o zagueiro Titi se emocionou ao relembrar o ataque ao ônibus do Fortaleza.
“Foi uma tocaia. Eles sabiam exatamente o que estavam fazendo e o que queriam: tirar nossas vidas. O ambiente está de muita tristeza. Todos os atletas estão abatidos, abalados com o que vivemos. E só nós sabemos o que passamos, jogadores chorando, gritando, era sangue em todo canto do ônibus, mas no dia seguinte a bola estava rolando. E eu faço uma mea culpa, porque no dia do Danilo, eu fui apenas gravar um vídeo. Nós temos que parar. Porque isso vai parar em morte. Se não tomarmos uma determinada decisão… Mas se nós decidirmos parar enquanto houver violência, a bola não rola. Talvez essa seja a maior tristeza.”, iniciou Titi.
O zagueiro foi um dos jogadores feridos no ocorrido e fez um procedimento cirúrgico para retirada de estilhaços de vidro e alguns resquícios de bomba caseira da panturrilha. Com isso, Titi ficará pelo menos três semanas fora da equipe.
“Sempre que a gente revive, e hoje eu estou revendo essas páginas, ainda me emociono. Vi agora as imagens e o que me vem à cabeça é sentimento de gratidão a Deus. Foi um milagre. O Vojvoda foi muito feliz nas palavras que, naqueles cinco segundos, na parte de cima do ônibus, era de encontrar algum atleta morto, algum atleta sem vida. Porque, sim, foi uma tentativa de homicídio. Não foi atentado. Só quem estava lá dentro consegue dimensionar. Faltam palavras. Os vândalos, bandidos sabiam o que estavam fazendo. E nós só estávamos trabalhando. A gente só foi fazer o que ama, que é jogar futebol. O Fortaleza foi vítima daquilo que o futebol já desenha há muito tempo. Há dois anos eu falava sobre o Danilo, goleiro do Bahia, e nada foi feito. O que me deixa triste é a impunidade.”, disse Titi.
“Eu estou há mais de 15 anos jogando profissionalmente e nunca tinha passado por nenhum tipo de lesão muscular. E agora numa tentativa de homicídio, por vândalos, bandidos, eu estou afastado daquilo que eu mais gosto de fazer. Só queria estar em campo com os meus companheiros. Não foi um acidente, uma entrada em campo. Foi por causa de vândalos. Nunca tinha entrado em um hospital para qualquer tipo de procedimento. A dor que fica é da maldade do coração dos seres humanos. Eu vou me recuperar, voltar a jogar, mas o grau de maldade que se encontra na sociedade me deixa muito triste.”, continuou o zagueiro.
Titi e os outros cinco feridos (Brítez, João Ricardo, Sasha, Dudu e Gonzalo Escobar) estão sendo acompanhados de perto pelo departamento médico do clube.
“A gente vem convivendo com essa violência. […] O departamento médico está 24 horas por dia em contato com a gente. Mas infelizmente é uma tristeza. […] A gente quando sai de um estádio, é hostilizado com palavras, mas nunca de tamanha grandeza assim. Ah, teve algum caso durante a partida que tenha deixado a torcida deles mais exaltada? Não, tudo transcorreu naturalmente durante os 90 minutos. […] Eles sabiam o que estavam fazendo, queriam tirar nossas vidas. Foi um milagre. Mas a dor que está no meu coração e a pressão psicológica são grandes.”, pontuou Titi.
A Polícia Civil de Pernambuco informou, nesta terça-feira (27), que um suspeito se apresentou a polícia e confessou participação no atentado ao ônibus do Fortaleza. Ele é maior de idade, foi ouvido e liberado em seguida, pois não houve flagrante. Segundo a polícia, as investigações seguem em curso.